quarta-feira, 26 de outubro de 2016

1ª matéria da faculdade - Jornalismo

“As pessoas passam por aqui todo dia, o dia todo”

Os maringaenses contam com parques para o lazer, mas, segundo um dos moradores, há parques que contam histórias de vida

  O parque do Ingá foi destinado às massas: ponto de encontros de amigos, casais, família, jovens e crianças, de várias idades e personalidades. Seu funcionamento vai até às 17h, mas o que acontece fora desse horário, ao redor do parque, vai até o mais tardar. Caminhando por ali, as pessoas praticam exercícios físicos na ATI (academia pública), ou até, sentam-se pra tomar água de coco e bater um papo com os amigos. Foi assim que conheci o Sr. Valdecir Soares, 60, um vendedor ambulante simpático e com um olhar sonhador.
  Foi questão de falar sobre o clima quente nos últimos dias, que a conversa desenrolou. Ao falarmos sobre o parque, Soares foi categórico: “As pessoas passam por aqui todo dia, e o dia todo. É um grande contador de histórias, né. É ‘bunito’ de se ver”. Às vezes, as pessoas veem somente aquilo que lhes é apresentado, mas esse não é o caso de Valdecir: “(...) sou apenas um vendedor que gosta de vir pro parque para ‘viajar’ um pouquinho, mas as pessoas se sentam ao meu lado e me contam suas histórias, sabe. Moça, gosto de ‘escutá’ essas pessoas, porque vejo que são situações diferentes das minhas e, por mais que eu tenha meus problemas, agradeço ao meu bom Deus por não passar metade das coisas que elas passaram. Aqui (o parque) escuta essas pessoas, moça.”
  Talvez o mais interessante nessa história toda, é que ele não entende o porquê das pessoas confidenciarem seus segredos a ele, um desconhecido, mas pode ser que “as pessoas confiem mais em mim para dar conselhos pelo fato que eu realmente não as conheça, sabe. Eu ‘vou lá’ e falo o que eu penso, a minha opinião, mas não julgo suas atitudes porque não as acompanhei durante anos, como os amigos fizeram, provavelmente. Se for pra ‘falá’, eu vou fazer isso.” Vindo de Catanduva, interior de São Paulo, e morando apenas um ano e meio em Maringá, ele afirma que nunca foi casado, e nem teve filhos, alegando que seus filhos estão espalhados pelo mundo, mesmo que o mundo se restrinja à Maringá: “As pessoas que me contam sobre suas perdas, seus medos, suas realizações não ficam só por aqui, moça. Elas viajam, conhecem outras pessoas e talvez as ajude com as palavras que eu ensinei para elas. Isso basta, né!?”
  Quando lhe perguntei qual era a melhor história, Soares não hesita: “Um casal novinho. Eles deveriam ter sua idade, ou não sei. Ela me contou, sabe. Estava triste, coitada, não poderiam ficar juntos. Pelo que ela contou, moça, a família não apoiou por questões religiosas. Pobrezinhos, parecia ser aquele primeiro amor que sempre dizem, mas que eu nunca tive. Ela me mostrou uma foto dele, um rapaz ‘bunito’, e disse que haviam combinado de se encontrar ali para enfrentarem isso juntos, mas que ele não havia aparecido. Ela era bem bonita também, mas estava tão triste..” esses segundos, entre uma fala e outra, houve um breve silêncio “.. falei pra ela desistir dele, moça. Pedi para ir pra casa e seguir a vida, sabe. Ela foi.. e o rapaz apareceu, todo esbaforido. Eu não o chamei, mas ele só tinha se atrasado. Eu pedi pra ela desistir dele, moça, depois de tudo que eles passaram. Espero que tenham se resolvido, mas se isso não aconteceu, eu lamento por ter falado isso pra ela. O lugar dos dois era um com o outro.”
  Com tantas histórias de pessoas, uma pergunta me ocorreu: “E a sua história, como é?” Valdecir sorriu e, dizendo estar surpreso por perguntar isso a ele, sendo a primeira a fazer isso, respondeu: “Meio patética. Eu não tive mulher, não tive perdas, apenas trabalhei minha vida toda achando que eu estava vivendo, sendo que era um engano. Percebi quando vim pra cá, sabe. Não tenho idade pra ir atrás. Olha... vou te contar uma coisa, moça. Essa é minha despedida, porque eu estou com um problema na perna que eu nem direito o que é, mesmo depois do ‘doutô’ tentar me fazer entender. Mas, se eu posso te falar uma coisa é: não espere, não. Só vai lá e faça, sabe”
 
Mylena Guimarães Batista

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