segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

She'll be home.

Seu dedo indicador bate na bochecha direita enquanto seus olhos não param de encarar o painel logo acima de sua cabeça. Lá, o aviso de desembarque parece libertar o nervosismo que ele ainda tinha conseguido conter. Repentinamente, ele se levanta e olha para a porta com a expectativa estampada em sua testa. 
Sua perna esquerda assume o papel de seu dedo indicador, balançando sem parar; como consequência, sua calça jeans cai um pouco, mas o tecido de linho branco consegue tampar o que quer que fosse aparecer. Sua mão direita alcança seu cabelo e sua boca se curva num sorriso assim que ela aparece. 
Como telespectadores de tamanha demonstração do nervosismo do rapaz, as pessoas se viram na direção do portão de desembarque, e prendem o fôlego quando finalmente entendem o que está acontecendo. Talvez eles fossem apenas irmãos, primos ou sabe se lá o que. Ou talvez, e tenho certeza absoluta que todos presentes concordariam comigo, eles fossem um casal que, por um motivo ou outro, ficaram separados tempo o suficiente para serem levados à loucura - sobretudo o rapaz. 
Ninguém reparou, não antes do rapaz, que ela não estava sozinha. Seu corpo fica imóvel, mas ele consegue recompor a postura antes que ela perceba - e, assim, eu me torno a fã de um desconhecido. Mas ela foi a única que não percebeu o quanto o corpo dele estava tenso e seus olhos, antes brilhantes, adquirem algo diferente e... estranho. As pessoas em volta do rapaz, que ansiavam tanto quanto ele, olham para o chão e/ou desviam o olhar. Poucos continuam a olhar o desenrolar da história, 
A lamentação é simultânea. 
A garota praticamente pula em cima do rapaz, e é exatamente nesse momento que ninguém tem dúvidas que ele a ama. Mais do que realmente poderia amar. Ela diz algo somente para ele, e o mesmo abaixa a cabeça, mas é impossível não saber o significado do anel na mão da moça, que não para de mostrar ao rapaz; ainda mais depois que o homem que desembarcou junto dela carrega o mesmo anel na mão. 
O rapaz sorri e engole em seco. Ele retira uma caixinha de dentro do bolso e as pessoas corajosas o suficiente para olhar prendem a respiração novamente. Ele abre a caixinha. Lá tem a parte direita de um coração quebrado ao meio em forma de colar. Ela sorri. Em seguida, ela puxa o cordão de seu pescoço e revela a parte esquerda do mesmo coração. 
O homem ao lado dela, o mesmo que carrega o anel no dedo, diz algo e o rapaz faz sinal de que vai embora. A garota parece decepcionada, mas compreende que ele tem de ir. Eles se abraçam e, pelo que parece, ele parabeniza - com uma alegria contagiante - pelo noivado. Quando os noivos estão cerca de sete passos longe dele, o rapaz grita:
_ Espero ser um ótimo padrinho! 
No entanto, assim que o casal vira a curva, ele se senta e fica olhando o colar em sua mão. Quaisquer que seja o significado, ou a história daquele colar, é algo muito maior que aquele rapaz poderia explicar. Mesmo assim, apesar da nítida dor que ele estava sentindo, ninguém o consolou e/ou citou qualquer palavra amiga. 
Nessas horas, ninguém é sábio o bastante para consolar um coração partido.  

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